Ministério das Relações Exteriores diz que restaurou obra de Portinari danificada no Palácio do Itamaraty.

por: AUDREY FURLANETO (EMAIL)
16/12//2013: O Globo – Cultura

Foto: Divulgação/Projeto Portinari
“Cena gaúcha” (1939), obra que Candido Portinari criou para a Feira Mundial de Nova York, naquele mesmo ano

RIO – A tela “Cena gaúcha”, de Candido Portinari, instalada no Palácio do Itamaraty em Brasília, foi restaurada, segundo comunicado do Ministério das Relações Exteriores enviado ao GLOBO nesta terça-feira.

Na tarde de segunda, Luzia Portinari Greggio, da família do artista, postou imagem da tela, com um rasgo de 5cm, no Facebook. O Projeto Portinari, liderado pelo único filho do artista João Candido Portinari, não tinha, na segunda-feira, detalhes sobre o estado da obra.

Feita por Portinari em 1939, a tela está num dos salões do Itamaraty, ao lado de outra obra do pintor, “Jangadas do Nordeste”, também de 1939. Ambas foram feitas para o pavilhão brasileiro da Feira Mundial de Nova York naquele mesmo ano. Além das duas pinturas, Portinari criou mais uma tela para o mesmo evento, “Noite de São João” — esta doada ao MoMA e destruída mais tarde num incêndio que afetou a instituição americana (em 1958).

O GLOBO apurou que “Cena gaúcha” teria sido danificada pelo equipamento de um fotógrafo durante uma cerimônia oficial no salão do Itamaraty há cerca de cinco anos, pouco depois de o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) ter feito um inventário das obras instaladas no prédio. A reportagem procurou, na noite desta segunda, tanto o Iphan quanto o Ministério das Relações Exteriores, mas não conseguiu contato.


Palácio do Itamaraty tem obra de Candido Portinari danificada

Na manhã desta terça-feira, o órgão informou, em comunicado, que “foi feita recentemente restauração das duas telas de Candido Portinari localizadas no terceiro andar do Palácio Itamaraty. A foto de rasgo na tela, copiada do Facebook, é anterior à restauração”.

Além da tela de Portinari, um afresco de Volpi, “O sonho de Dom Bosco”, instalado no mesmo prédio, apresenta rachaduras e respingos de tinta, como revelou reportagem do jornal “Folha de S.Paulo” publicada também nesta segunda-feira. Pedro Mastrobuono, diretor jurídico do Instituto Alfredo Volpi de

Arte Moderna, contou ter sido informado na tarde desta segunda-feira que o afresco de Volpi seria tombado como patrimônio histórico do país — como a pintura do artista foi feita sobre uma parede do Palácio do Itamaraty, este tombado, a obra seria, por consequência, também tombada.
— Foi uma surpresa — afirmou Mastrobuono à reportagem do GLOBO. — O fato de ser tombado transforma o afresco de Volpi em integrante do patrimônio histórico do país. Isso nos coloca diante de uma questão: o discurso das autoridades neste momento é que uma declaração de interesse público equivaleria a um tombamento (referindo-se ao decreto 8.124, do Instituto Brasileiro de Museus, que vem causando polêmica por prever a ação do governo em acervos privados que seriam declarados “bens de interesse público”). Ora, o afresco está tombado e seu estado de conservação é pífio. A obra não tem apenas resquício de tinta que caiu do teto, mas perdas de matéria, trincas, rachaduras muito graves, indícios de má conservação. Não há cuidados mínimos. Não há sequer uma única corrente que impeça o transeunte de alcançar o afresco — completou.

Na manhã desta terça, o Ministério das Relações Exteriores informou que o afresco de Volpi é, na verdade, protegido por um vidro. “Sobre a alegação de que a obra não possui nenhum mecanismo de proteção (corrente, vidro etc), a informação não procede. No caso do afresco, há uma barreira de vidro que nitidamente indica o limite para a aproximação do público. Além disso, cabe lembrar que o acesso ao Palácio do Itamaraty é controlado por sistema eletrônico de identificação. O acesso do público à obra somente se dá em visitas guiadas, coordenadas por profissionais treinados e acompanhadas por agentes de segurança”, informou o órgão no comunicado.

Ainda segundo o ministério, os respingos de tinta no afresco “O seonho de Dom Bosco” são em decorrência de reforma feita no prédio após sua depredação durante as manifestações em junho deste ano. “A empresa que faz a manutenção predial não teve os cuidados necessários ao pintar o teto da sala onde se localiza o afresco do artista Alfredo Volpi. Em razão disso, o Ministério das Relações Exteriores está tomando medidas para a punição da empresa e solicitando o ressarcimento dos danos, já que, por conta de cláusula contratual, ela é responsável por danos causados por seus empregados ao patrimônio do ministério”.

O órgão informou ainda que solicitou ao Instituto Volpi a indicação de um restaurador. “Pela natureza do serviço, o restaurador não poderá será contratado por licitação normal, sistema onde prevalece o menor preço. Será aberto um processo de inexigibilidade, conforme previsto na Lei 8.666, processo que deverá levar algum tempo.”

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