Feira de arte mais exclusiva da Europa tem peças de Alfredo Volpi, Hélio Oiticica, Maria Leontina e Mira Schendel
Antonio Gonçalves Filho, O Estado de S.Paulo | 10 Março 2018 | 01h00
MAASTRICHT/HOLANDA – A abertura da Tefaf Maastricht 2018 para convidados, hoje (8), confirmou a expectativa dos galeristas latinos participantes da feira holandesa sobre o crescente interesse do público colecionador europeu pelos artistas modernos e contemporâneos brasileiros. Concorrendo com pesos-pesados de todas as épocas, de Dürer a Picasso, passando por Rembrandt, Cézanne e Morandi, pintores como Volpi e Maria Leontina e escultores como Sergio Camargo passam a ocupar o imaginário europeu. Duas galerias ocupam a linha de frente nesta batalha pela arte latina e, mais particularmente, pelos artistas brasileiros: a uruguaia Galeria Sur e a Leon Tovar Gallery de Nova York. A primeira exibe três telas de Volpi, metaesquemas do artista neoconcreto Hélio Oiticica, uma tela de Maria Leontina e um desenho de Mira Schendel. O marchand Leon Tovar, que participa pela primeira vez da feira de Maastricht, ocupa seu estande com dois r elevos do escultor Sergio Camargo, instalados ao lado de duas telas de Albers.
Mastro de Alfredo Volpi em exposição na Tefaf Maastricht Foto: Tefaf
A proximidade de Sergio Camargo com as obras do pintor alemão foi pensada pelo marchand Leon Tovar como uma estratégia para atrair o colecionador europeu, que ainda pensa na arte latina como uma manifestacao de caráter surrealista, distante do racionalismo geométrico europeu. ”Sobretudo nos EUA, os colecionadores já se acostumaram a ver obras brasileiras mais arrojadas como as de Camargo, mas Maastricht é uma feira muito sofisticada, com colecionadores que sabem o que querem e de alto poder aquisitvo”‘, observa Tovar, atribuindo a redescoberta dos artistas construtivistas brasileiros ao interesse de museus como o MoMa de Nova York e a Tate Modern de Londres, que promoveram mostras de neoconcretos e artistas do abstracionismo geomético latinos.
De fato, o dinheiro circula com facilidade numa feira como Maastricht, que reúne nesta edicão nada menos que 275 marchandes, principalmente europeus, que vendem desde esculturas greco-romanas até pinturas pop de Andy Warhol e Basquiat, passando por móveis antigos, telas barrocas e joias históricas. Os dois relevos de Sergio Camargo oferecidos pela galeria de Leon Tovar, ambos dos anos 1970, custam de US$ 700 mil a US$ 3 milhões, cotacão comparável a dos grande mestres europeus que foram seus contemporâneos. Um pequeno busto (pouco maior que um dedo) da escritora francesa Simone e Beauvoir feito pelo escultor Giacometti está sendo vendido pela galleria Maison d Art de Monte Carlo por 250 mil euros (aproximadamente R$ 1 milhao).
Outro pioneiro que apresenta pela primeira vez Volpi ao público de Maastricht é o marchand uruguaio Martín Castillo, da Galeria Sur. “Fico feliz pelo fato de Volpi ser um dos highlights da feira deste ano, especialmente porque o público europeu poderá comparar o pintor brasileiro e os artistas locais”, diz. ”Essa é uma das pinturas mais originais que conheco de um construtivista por vocacão, que não teve formacão erudita, mas que dialogou com a obra dos renascentistas italianos e dos modernos franceses sem perder sua matriz popular brasileira”, analisa Castillo, também entusiasta do modernista Di Cavalcanti. A GaleriaSur vai colocar à venda na próxima SP-Arte um imenso painel pintado por Di Cavalcanti en 1957.
Castillo revela que as vendas, em sua maioria, são feitas para colecionadores particulares na feira de Maastricht, o que explica a ausência de pintores como Volpi no acervo dos grandes museus europeus. “Os comitês que julgam as obras para ingresso nas colecões dos museus são muito conservadores”, analisa o proprietário da Galeria Sur. De fato, o que mais se vê em Maastricht, além das pinturas dos antigos mestres, são obras que já integraram acervos de grandes museus, como um estudo de O Grito, de Munch de 1895, ou um pequeno retrato de um dos filhos de Renoir, à venda por 1 milhão de euros na Macconnal Mason de Londres, menos da metade do valor de uma tela de Morandi na Galeria Kartsen Greve, oferecida por 2,5 milhões de euros.
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